tecitura de um labirinto

um labirinto tece-se
constrói-se e ergue-se
no cérebro esgotado
invadido
por múltiplos pensamentos
sobrepostos.

vorazes vozes
ecos de ruínas ruindo...
bombas estilhaços
fragmentos desconexos
abafam a lógica
a racionalidade.

o ser deriva.
de si perdida
a humanidade.

nem homem
nem bicho

animal ferido
no labirinto do ser
perdido.
......................



Com este poema respondi (mais uma vez e sempre com gosto) ao desafio feito pelo POROSIDADE ETÉREA: escrever um poema onde constasse a palavra “labirinto”.

Muitos, mas mesmo muitos outros poemas poderão ler por lá, a propósito ou em torno desta palavra.





ERGA O SILÊNCIO A VOZ

 

            I

 

erga o silêncio a voz

e as nossas se calem

silenciadas

que as palavras

não ditas, por mal ditas

não façam do silêncio nossa fala.

           II

 

com o silêncio se mata

a falsa voz

para que nunca

em nós

feneça a fala.

 

 

Conceição Paulino

 

Cantiga de amigo - I

Que importa ao vento que passa
A dor do meu coração,
A fita que me amordaça,
Se de tudo faz canção?

No meu jardim assentada
Em banco de pedra dura
Por vós esperei lavada
Em lágrimas d’amargura.

Onde pára o meu amado,
Onde pára o meu senhor?
Triste é este meu fado,
Triste é a minha dor.

O vento passa sorrindo
E eu em lágrimas lavada
Sonho que já lá vens vindo
Mas é prenda envenenada.

Que importa ao vento que passa
A dor do meu coração?
Não sente minha mordaça
E de tudo faz canção.

Onde pára o meu amado?
Onde pára o meu senhor?
Diz-me, vento tresloucado,
Que a ti faço penhor.

Conceição Paulino