participação no FOTODICIONÁRIO - Pecado, a palavra

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Uma escola antiga. Bonita na sua arquitectura e bem perservada. Há uma primeira porta (lado esquerdo da foto) encimada por uma espécie de campanário, o local da sineta. Ao fundo da imagem, à direita, outra porta idêntica. A do SEXO MASCULINO  e a do SEXO FEMININO.
E assim continuou esta artificial separação até ao final do liceu, onde,  a partir do antigo 6º ano os dois sexos tinham aulas conjuntas, mas espaços de recreios separados (em pisos diversos) e da saída das salas cuidava um contínuo para que não houvesse convívio.

Porquê? Porque  a palavra SEXO estava lá. Porque o feminino e o masculino (com a palavra sexo ou sem ela - agora género) lembravam a sexualidade humana, a vivência possível, o acordar da sexualidade - coisa pecaminosa.
Por isso a minha escolha para representar por imagem a palavra PECADO no Fotodicionário da passada semana foi esta

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compreensão
 

ia longe a manhâ.
como longe ia a infância. a criança solta que fora.
era agora total a vulnerabilidade.
o ser, sem qualquer defesa.
a fina silhueta, jacente sobre uma tapeçaria de verdes sépalas, coloridas e perfumadas pétalas, nada tinha com que de si pudesse afastar qualquer agressão.
nenhuma obstrução a fazer, por acção ou argumentos, e no entanto rebelava-se.
como exponente era um direito que possuía. inclusive poderia apelar ao apoio de um conselheiro que o orientasse, pois toda a defesa necessita o apoio de especialista na matéria.
de pouco lhe valiam inteligência, argúcia, poder argumentativo…
a morte não encontrara obstáculo, obstrução. entrara pelo seu corpo como sol por manteiga.
o corpo nada mais do que uma coisa ali largada, pena lançada aos ventos da noite – com carinho embora – mas largada. porque só, na densa noite.
no alto via as estrelas, um crescente belíssimo onde, nos seus sonhos de criança, se balouçava.
mas o corpo, na sua cama de flores sobre a terra, cobria-se de orvalho cuja humidade o penetrava.
não entendia como podia um corpo de onde a vida se esvaíra sentir o que quer que fosse…

fitando o movimento dos astros esqueceu-se de tudo o mais e procurou as explicações que todos sempre procuramos.

 Conceição Paulino